Uma pausa longa, uma pausa de semibreve ou de fusa. Como em qualquer canção, em nossas vidas cheias de som e de fúria elas são o negativo complementar do movimento; o silêncio ruidoso que repica. Reflexivas ou impulsivas, sonoras ou inaudíveis, existe uma variedade gigantesca de pausas, mas num mundo em que cada vez mais somos impelidos a "seguir o fluxo", a "dançar conforme a música" do "show que não pode parar", disritmia virou patologia.
Contra essa toada, Uma longa pausa apresenta um conjunto de situações nas quais os mais diversos cotidianos são virados do avesso: momentos em que se cruza o ponto do não retorno, em que transformações acontecem, e isso de maneira democrática, sem que seja privilégio de vidas notáveis.
Caminhando entre o realismo fantástico e o mergulho nas consciências, Fernanda Donega apresenta seus personagens, que possuem em comum essas experiências disruptivas. Ela é trezentas, trezentas-e-cinquenta, remando contra a maré, desafinando o coro dos contentes ou sambando no velório: e essa multiplicidade sincopada ajuda quem a lê a topar consigo mesmo.
Autora: Fernanda Donega
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